segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Textos de um Esquecido #018 - Sobre (meus) sonhos.

"(...) pois o mundo foi esvaziado de sonho para que os homens coubessem nele."(DONATO, Mário). 

Em que mundo estou vivendo? No real ou no abstrato? E como saberei? Por que é tão difícil saber? E por que faço tantas perguntas? Porque não sei as respostas. Porque admiro quem se conhece, quem sabe de si. Quem fala com veemente certeza de seus sonhos, de seu mundo. Sonhar não é pecado. Morrer por eles – ou com eles - também não. A verdade é que meus sonhos não me sustentam. E nunca sustentaram ninguém. Mas continuo, ando sobre eles e resido sob eles. Eles me fazem. Meus sonhos são minha voz. Meu olfato. Minha visão. Meus ouvidos. Meu tato. Eu não os traio e não abro mão deles. Só quero uma coisa: morrer sem eles. Morrer crente de que conquistei tudo o que quis, de que alcancei minhas aspirações, de que voei sobre meus desejos. É possível parar de querer mais? Alguém me diga que sim!

- João Duarte.

Textos de um Esquecido #017 - Minhas 19.

hoje tentei sair cedo, 
chegar aqui no horário
pra poder te ver no ônibus das 19:00 e... 
droga ! 
são 19: 15 
eu devia ter saído mais cedo 
deveria ter te ligado antes pra combinar 
por que não liguei ? 
cheguei atrasado 
só um pouquinho 
como de costume 
não sou pontual. 
eu espero que o ônibus não tenha passado 
acho que ainda vai passar 
(10 minutos depois) 
oh deus não! 
ele não pode ter passado! 
como é que pode ? 
a gente quase nunca se vê 
nunca! 
e quando finalmente... 
ahh droga ! 
que ódio! 
acho que to enjoando 
minha paciência esta entrando em conflito com a minha agonia 
me fazendo ter surtos nervosos. 
sim, 
definitivamente estou nervoso 
cadê esse ônibus ? 
todos passam menos o seu 
o meu! 
perdi completamente a esperança 
já são 19:25 ele nunca demora tanto tempo 
hoje não é mesmo o meu dia 
não vamos nos ver! 
meu coração ainda está esperando 
e batendo no sentido dos segundos que passam 
me fazendo quase tremer, 
esse ônibus tem que passar logo 
essa espera ta me matando hoje 
até passei perfume! 
se bem que não preciso. 
o tempo está até contribuindo, 
o vento não está bagunçando o meu cabelo. 
eu realmente deveria ter ligado 
porque eu não te liguei? 
lembrei! 
não gosto de coisas marcadas 
elas nunca dão certo 
sempre se estragam 
e hoje espero que tudo corra bem 
do jeito que está na minha cabeça 
eu espero... 
agora vejo que pelo menos uma vez 
tenho que deixar as coisas estragarem. 
é, pelo menos uma. 
minha barriga esta dando leves giros de nervosismo 
e os giros estão refletindo no meu rosto 
a ponto de o dono de uma banquinha me oferecer uma bala 
e eu aceitar. 
coloquei os meus fones. 
está tocando a sua musica favorita.
 ... 
(19:30) 
finalmente 
ai está ele 
o nosso ônibus 
na verdade não sei se é o nosso 
pois já passou do horário. 
meu coração bate como se quisesse 
sair pela boca 
agora não por favor ! 
corri para porta 
me meto na frente de todas as pessoas 
que se empurram pra entrar 
consegui, 
entrei. 
procuro em todos os lados 
em todos os bancos que tem uma vaga do lado 
cade você ? 
vejo todos seus amigos 
e até uma menina com uma blusa do strokes. 
para minha tristeza 
você não está aqui. 
é isso. 
a minha a entrada nesse ônibus não faz mais sentido, 
não mais do que uma folha em branco. 
eu já posso descer! 
vou esperar o próximo 
talvez você esteja nele 
talvez... 
minha vontade é além de descer 
me jogar pela porta 
mas não posso 
eu iria me machucar 
e também porque não conseguiria 
pelo numero de pessoas atoladas na entrada. 
to me sentindo um idiota 
vou entrar 
passar pela catraca e entrar 
é o jeito 
vou ficar aqui 
em pé 
dando os cantos vagos para as pessoas que precisam 
algum idoso ou uma gestante 
me apoiando nos bancos para não cair 
enquanto alguém segura a minha mochila. 
rs 
segurar mochila... 
é você que sempre segura a minha 
quando você está comigo 
mas para a minha triste desgraça 
você não está. 
é incrível como sem você tudo isso se torna apenas uma volta simples em um ônibus 
e não uma cena de filme como parecia 
pensando bem, parece sim uma cena 
só que de tragedia 
sem você... 
essa frase nem deveria existir. 
agora estou indo pra casa 
sozinho e frustrado 
e resmungando mentalmente 
por que eu não voltei mais cedo? 
troquei sua musica 
por uma triste “so far away” 
do dire straites 
pra poder combinar com a minha situação 
por que até as horas tristes precisam de uma trilha 
so far away from me... 
soa tão bem agora 
por que é onde você está 
mas era aqui que você deveria. 
sentado do meu lado 
enquanto eu te dizia palavras erradas 
com a dicção afetada pela minha língua presa 
e cantando com a voz cansada. 
sim, você deveria estar aqui 
e não precisaria nem segurar a minha mochila. 
você só precisaria... 
estar.

- Ives Valente.

Textos de um Esquecido #016 - Nada.

Piadas sérias, relatos sem graça, teses sem amor e apesar de todo o ceticismo, aquele homem caricatico conseguiu a admiração de uma mulher sensível. Haveria amor? Sim, o suficiente para décadas, como uma chama que não está disposta a apagar. No entanto, faltaram as palavras, nas desculpas e nas conversas bobas quando duas pessoas se cruzam num corredor. Ele quis ensiná-la, mas esqueceu de aprender e ambos estavam mergulhados no próprio orgulho. E o que ocorreu? Nada e o nada acabou com os cumprimentos e os olhares.

- Amanda Félix.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Textos de um Esquecido #015



Sabe, eu estou com muita vontade de escrever há dias. E eu estava pensando o que escrever, vendo se surgia alguma ideia, alguma inspiração. Porém, só o que vem flutuando na minha cabeça são duas das frases mais clichês que existem, dois pensamentos que eu não gostava muito de acreditar, duas concepções que se ligam a duas pessoas distintas. E eu não queria parecer o escritor deprimido que sempre sou, mas parece ser mais forte do que eu. Como vivo dizendo, a vida é um poço que insiste em nos arrastar para dentro dele, cada vez mais fundo, tornando a escalada cada vez mais difícil e cansativa. E eu tento subir, mas parece que não sou forte o bastante. Minhas emoções sempre são intensas demais, e me deixo ser levado por elas, arrastado para o poço, ficando sozinho no vazio angustiante daquele lugar. Minha vida é um amontoado de clichês que me entristecem e fazem mal. O primeiro deles é o típico “tudo está bom demais para ser verdade”. Eu conheci uma pessoa incrível, extraordinária, que me deixou tranqüilo e seguro em todos os minutos que estive com ela. E quando me afastei, só pensava em quando teria aquilo de novo, quando poderia matar as saudades, quando poderia ter de novo aqueles preciosos momentos de alegria momentânea. Eu me apaixonei perdidamente no menor intervalo de tempo possível, deixei o sentimento fluir, tentei viver o agora sem pensar em um depois. O problema é que só eu estou me sentindo assim. Aquela típica sensação de que estou sentindo algo sem ser retribuído, sabe? E eu sei que pode ser muito cedo, e que a situação possa mudar. Eu só estou tentando falar sobre meus atuais pensamentos, e eles me dizem que fui estúpido por querer muita coisa rápido demais. É hora de ser razoável e desacelerar o turbilhão de emoções em que me encontro. Ir devagar, curtir o momento, e o que vier à frente deve ser uma preocupação inexistente. Demonstrar sentimentos assusta as pessoas, e devo ter prudência pra não estragar tudo. Nada está perdido, e não faz sentido me preocupar. Isso tudo é medo de perder a pessoa mais incrível que já conheci em tempos. É hora de respirar fundo, rever minhas atitudes e voltar a tentar. Agora quanto ao segundo clichê, aquele velho “as pessoas só dão valor ao que tem quando perdem”. Já correu atrás de alguém por muito tempo e não deu em nada? Bem, aconteceu comigo. Eu gostava (ainda gosto, na verdade) de uma pessoa, um amigo, que não me deu atenção por meses. E quando sigo em frente, ele fica estranho. Eu não quero pensar que seja ciúmes, mas tudo aponta pra isso. E o pior, eu gosto da ideia de que ele sinta algo, exatamente porque ainda gosto dele. A gente se encontrou esses dias, e minha vontade era de agarrá-lo pelo maior tempo possível. E eu me repreendi. Porque não agüento mais ser o cãozinho que corre atrás sempre que ele chama. Sim, eu gosto dele, e sim, talvez ainda queira muito uma chance, mas já deu de sentir algo sozinho. Quero que ele venha atrás, diga que se enganou todo esse tempo, que cometeu um erro e que me deseja, e sempre me desejou. Eu sei que viajei agora, mas estou sendo sincero. Pode não parecer, mas ele é uma ótima pessoa, alguém que vale a pena, mas ele é orgulhoso demais pra dizer o que sente. Ou eu sou iludido demais por pensar isso. De um jeito ou outro, a única certeza é a de que eu não vou mais atrás. Estou aqui, apenas esperando, apenas relaxando e pensando o que fazer da minha vida. Chega de clichês na minha vida. Eu quero romance, eu quero beijos, quero abraços, momentos fofos e sorrisos, quero que tudo aconteça facilmente... Quero felicidade. Droga, eu quero o desejo mais clichê do mundo! Por que os humanos tinham que ser esses malditos clichês ambulantes? Por que não conseguimos escapar deles? Malditos clichês.

- Lucas Carvalho.

Textos de um Esquecido #014


Não concordo com essas noites de sábado, não entendo tal euforia. Culpo ela por isto. Teus olhos bicoloridos de serpente me estasiaram no último, e ainda refletem, me perdem, nisto. Me incomoda esta, aqueles olhos tão profundos quanto mil léguas afundando a esperança de Axel em encontrar o centro da Terra, afundando minha boca em milhas de cigarro e gim.
— Sábado, vou sair — Penava ainda — talvez a encontre.

 Benê dos Anjos.

Textos de um Esquecido #013

É estranho. Esse poder que as pessoas têm sobre mim. De me deixar louco e confuso em tão pouco tempo. Ou talvez seja eu, eu e minha mania de me apegar rápido demais. De criar expectativas rapidamente. Mas o fato é que nunca tinha me apegado tão rápido a alguém. Antes os sentimentos demoravam semanas, meses para surgirem. Com ele, bastou um dia. Na verdade, não bastou nem mesmo um dia completo. Tudo bem, eu admito que não é amor, nem mesmo paixão, mas... Sabe aquela vontade de querer mais? Você está no seu quarto, deitado, ouvindo música no máximo, uma xícara de café vazia em uma mão, um cigarro na outra, mas sua mente está longe, relembrando o momento em que estava com ele. Pedindo por mais uma noite, mas uma hora, se possível apenas um minuto. Você apenas quer vê-lo de novo, tocá-lo, sentir seu cheiro, ouvir sua voz. Não é amor ou paixão, mas desejo. Quando alguém bom demais surge na sua mísera vida, você não quer deixar o momento passar. Você deseja ter aproveitado mais o tempo que tiveram, deseja que o tempo passe mais devagar, que não dê a hora de voltar para casa pra passar mais um segundo em seus braços, apenas deitado vendo aquele sorriso, e sorrindo pateticamente de volta. Fica neurótico olhando o celular constantemente, esperando uma mensagem ou ligação que insiste em não vir. Você quer mais um momento, porque mesmo sabendo que aquele poderia ser o único que tiveram, foi algo tão surreal, tão fofo e incrível, que é irracional não querer que as coisas fossem diferentes. Não se conforma que aquilo dure apenas uma noite, que seja só mais uma lembrança para sua coleção. Mais um momento. Só o que você quer agora é mais um momento. Ou mais dois. Ou vários. Sim, você quer mais vários momentos. Quer abraçá-lo e beijá-lo quantas mais vezes for possível. Quer ir à casa dele e congelar o tempo pra não sair mais de lá. Quer sentir a pele dele na sua outra vez. Quer que ele deseje você tanto quanto o deseja... Quem sabe deseja até mesmo uma vida juntos? Não é o que quero no momento, mas vai saber? Quem sabe mais pra frente? Foi tão único que agora todos os meus pensamentos insistem em relembrar. Insistem em clamar por mais. E mais. E mais... Droga, isso não é paixão, certo? Não estou sendo um idiota apaixonado, estou? Por favor, digam que não. Ficaria envergonhado por me apaixonar tão rápido. Seria estúpido outra vez. Viu como tenho mania de criar expectativas? E agora, o que fazer? Como conseguir meu foco outra vez? Quero voltar a ter controle, não me iludir, não criar esperanças. Porque o momento pode ter sido apenas um momento.

- Lucas Carvalho.

Textos de um Esquecido #012

Um pouco de distração 
Espaços em minha mente 
Sobra-me inspiração 
Mas tem sido diferente 

De repente, onde estou
Tantas coisas, pouca gente 
Quando penso no que sobrou 
Resta-me um "bola pra frente" 

E se eu cansar de rimar, acho que a poesia vira prosa. 
Mas o que importa é passar a ideia mais ansiosa 
Que se possa imaginar nessa tarde dolorosa. 

Parei, afinal. Tenho meus descompromissos. 
Seja ao questionar, seja com meus rabiscos. 
Não sou curiosa, mas a chuva bem que convém 
Ou posso me tornar e isso não passar de desdém 

O estranho disso tudo é que não se trata de mim 
Trata-se de uma ideia e de uma escrita marota 
Apesar de não me conhecer tão bem assim 
Resolveste escrever sobre esta garota. 

Restou-me a ideia pendente de quem eu seria 
Ao menos tentar expressar usando essas linhas 
Que tanto me têm sido úteis em momentos de euforia 
Uma vez que me têm vindo a calhar essas minhas 
Emendas de pensamento e respostas certas 
Logo e sempre que preciso de portas abertas 

Sou essa menina mulher da pele branca 
De olhos acentuados e sorriso contínuo 
Que não sabe dizer não ao destino 
E que as portas da simpatia não tranca

- Paulo Eliezer.

domingo, 10 de novembro de 2013

Textos de um Esquecido #011

Por que continuamos caindo nos mesmos erros? Por que ficamos criando expectativas de situações que deveriam estar resolvidas? Por que, mesmo com todos os sinais, continuamos alimentando as ilusões? É triste como os sentimentos nos traem, trazendo-nos de volta aos devaneios quando você decide seguir em frente. Seja com uma frase, uma atitude ou apenas um olhar, é o bastante pra que você seja puxado de volta para a situação. E aí você se pega fazendo o típico papel de bobo, correndo atrás, conversando, tentando uma aproximação, sendo o mais próximo possível do outro, sendo engraçado, compreensivo, gravando músicas e escrevendo textos para ela… E para quê? No fim do dia, a única coisa que estará com você em sua cama será sua cabeça recheada de pensamentos confusos, expectativas frustradas, e cenas irreais, que nunca acontecerão na realidade. Como uma pessoa consegue mexer tanto com alguém? Como uma pessoa pode fazer você esquecer sua alegria? Como alguém poderia definir seu humor? Mexer com sua cabeça e seu mundo sem nenhum motivo aparente? Me enoja essas pessoas que dizem “ah, o amor é lindo”. Como algo tão auto-destrutivo pode ser bonito? Porque é a isso que o amor se resume: auto-destruição. E você tenta seguir em frente, tenta dizer a si mesmo que é apenas uma amizade, e que você vai jogar tudo pro alto e voltar a viver sua vida como antes, mas é impossível. Você não controla. E logo você se vê se iludindo de novo, por aquele mísero contato, aquela mínima palavra. Fazendo papel de ridículo, dizendo que não sente nada, quando aquela pessoa bem ali na sua frente é tudo pra você. Sabe aquele pensamento de que precisa se afastar de alguém, mas ao mesmo tempo imaginar a distância entre vocês já é doloroso? Já se sentiu assim? É a porcaria do amor, machucando você e te transformando em mais um bobo no mundo. E o que fazer? O que fazer pra deixar esses pensamentos de lado? O que fazer pra que a relação entre vocês seja apenas amizade? O que fazer… Se alguém souber, por favor, pode me dizer? É difícil admitir, mas tô sofrendo dessa doença. E preciso de cura. Eu preciso voltar a viver, então por favor… Me deem uma cura. Urgente.

- Lucas Carvalho.

Textos de um Esquecido #010: Romance dos céus.

Cavalheiro mórbido, 
Me tira o descanso a madrugada inteira fazendo assim te amar, te desejar por uma única só noite. 
Parece romance dos céus, 
Parece lenda, mito, parece tudo. 
Mas acaba assim que o sol abraça os céus,não nos lembramos, tão poucos nos reconhecemos. 
Nos esquecemos o que aconteceu durante a longa madrugada; 
A troca de carinhos, beijos inesperados, abraços suspeitos. 
Amor de filme. 
Nos amamos como os céus ama as estrelas que tão pouco são vistas com as luzes dos prédios. 
Você que logo desperta ódio pela manhã, me desperta amor na calada da noite. 
Brigamos até nos faltar argumentos, gastamos palavras secas, súbitas em nossos lábios. 
Ousa me chamar para uma dança, dançamos a noite inteira sem dizer uma única palavra, nos devoramos com o olhar e com o sorriso diríamos um ao outro o quanto nos gostávamos, 
O quanto queríamos ser como o céu e as estrelas para sempre.

- Cleiciana Vieira.

Textos de um Esquecido #009: Teatro sentimental.

Eu nunca disse eu te amo
sim, nunca!
não do jeito que deve ser dito
eu dizia de uma maneira vaga
como quem não quer dizer nada
e está sendo obrigado
ou como se pensasse que diria
e saísse apenas “não te amo , só quero te comer”
sabe?
não tenho jeito pra essas coisas
não assim.
e não me culpe por isso
pois eu também não me culpo
se eu nunca disse eu te amo
é por que eu estava apenas deixando a situação mais divertida
empatando o placar
pois apesar do melodrama pós-psicopata
eu sentia que no fundo daquele discursinho
existia apenas um vazio, um imenso vazio
e eu estava  retribuindo na mesma moeda
o que me era oferecido de bom grado
(Risos)
não penso em mim como uma pessoa malvada
não
não me acho assim
afinal eu fazia tudo direitinho
todos os movimentos
as caras de desejo
as preliminares .
nosso sexo era insano
não importava onde estávamos quando a vontade vinha
todo lugar era oportuno
bastava um jeitinho e dava certo
ele parecia um animal
uma pessoa morrendo de sede na frente de um copo d’água
um cachorro a encarar um pedaço de carne
e eu é claro, era a carne a ser devorada
nessas horas ele não era o melodramático de sempre
era algo violentamente animalesco
o que me fazia duvidar mais ainda dos seus “sentimentos”
mais não vou mentir e nem ser hipócrita de negar que eu gostava
adoro uma carinha de santo contornando violentamente um desejo
como adorava o jeito como ele me pegava
como se fosse um escravo sexual
que deveria fazer seu trabalho.
é, definitivamente eu gostava
e até fumava um cigarro depois do ato.
só fazia com ele o que eu achava que ele merecia
mas o que merece um melancólico
se não sofrer ?
o que é mais divertido que isso ?
me divertia e fazia uma boa ação
quem sabe até ganho um premio de bondade do ano.
(risos)(parada súbita)
(pausa para um cigarro)(uma tragada)(recomeça)
Não levei isso muito longe
quis parar quando comecei a achar as coisas repetitivas
tenho fobia a repetições
e o seus melodramas já não me rendiam tantos poemas
apenas cansaço mental
e mensagens que eu não lia
tava na hora de acabar com aquilo
e cansado de tudo
resolvi inventar historias
disse que
o problema não era ele
era eu
existia outra pessoa na historia
um amigo.
provoquei lagrimas
tristezas e chateações
mas é o que deve ser feito
quando não existe mais nada
e ainda mais se não existia amor.
mas se posso tranquilizá-lo de alguma maneira depois de tudo isso
se posso limpar a ferida depois da facada sangrenta
digo a ele que gostava
que me agradava as medidas que via
quando seu corpo estava sem roupas
que era grande e intenso
que via poesia
na sua loucura usual
na forma obsessiva que desejava o meu corpo
que era arte o nosso desamor
e que era carnal
o nosso teatro sentimental.


- Ives Valente.